Em caráter de urgência poética. Traved – Por Marcio Tito.

Por Marcio Tito.

A sobreposição estratégica, sem ruído na cola entre as formas e cenas, é a mais impressionante inovação da temporada.

O bom gosto da direção, que em alguma medida também parece definir o assunto, faz com que a “realidade” “virtual” acione de modo instigante uma encenação tão urgente quanto inaugural. E tudo nos transporta ao tempo-espaço da cena que está destinada ao contato com as pautas da vida popular (e não somente com um projeto de obra fixada num ponto aonde fosse possível admirá-la enquanto quadro ou tela de esteta na parede da cultura).

É bastante significativa a comunicação entre dramaturgia, encenação presencial e encenações expandidas e Dodi, com ótimo trânsito entre os estilos que a montagem exige, mas sem com isso tornar-se um mero artifício da encenação, conquista uma significava e destacada performatividade (capaz de atravessar com clareza e delícia o núcleo temático da produção).

O equilíbrio dramatúrgico é preciso, e a maneira como Dodi intercepta as vibrações narrativas é, no contexto da montagem, uma terceira tecnologia (entre o expediente do palco, entre o expediente virtual, digital ou gráfico).

O efeito que conjuga de modo inteiriço a montagem está intimamente ligado ao tempo poético e inteligente da atriz. A forma como o aço e a carne se moldam, até se transformarem nas incendiadas páginas de uma biografia autoconsciente, empresta maior e completo sentido às falas e às trilhas.

Muito além da experiência “imersiva”, muito além do antigo contrato entre artista e público. Encontramos em TRAVED a elevação pós-dramática das artes cênicas (em caráter de urgência poética). Raríssima composição de atriz. Arejada e bem medida assinatura da direção. O mais bem realizado happenning-dramático do nosso teatro recente.

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Traved.

Elenco: Dodi Leal.

Roteiro e direção: Robson Catalunha.

Captação de vídeo em 360°: André Stefano.