Red Line – Por Marcio Tito

Contundes atributos visuais equilibram a montagem e a qualidade do texto encontra simetria na potência das imagens e do elenco. Com boa direção de Biagio Pecorelli, Red Line, conforme rode por aí, deixará marca profunda na cultura dos que procuram obras contemporâneas



Por Marcio Tito
@marciotitop

Optando por fabular o tempo e o enredo de um mundo sempre perto ou eminentemente associado ao que é violento, Red Line assina com vísceras e tinta forte a estética de um grupo que marca a cena contemporânea com uma poética tão tragicamente pop quanto radicalmente autoral. Grunge, pouco convencional e comentando muitos dos vícios que formulam a cultura do mundo atual, Red Line parece buscar qual seria o exercício filosófico ou prático do próprio Marquês de Sade no contexto das interações apresentadas. Os corpos eleitos, sempre expostos ou quase violados ou exibindo traumas anteriores ou posteriores, tal qual os afetos – sempre intensificados por químicos exteriores ou por pura adrenalina – incendeiam qualquer possibilidade de uma rotina identica ou similar ao cotidiano das pessoas que vivem e produzem “satisfeitas” na máquina do capita, assim, por meio de uma ação contínua e unindo forma e conteúdo na revelação e busca de um teatro marginal, Red Line soa como réquiem ou extrema unção para as supracitadas figuras ou para o contexto de mundo precário e cindido em cada uma se suas esferas. Situações rasgadas e vozes em agonia declaram que sim – estamos todos e todas numa grande prisão que quase nunca permite a entrada do afeto. Cada qual conhece um tormento, mas também permanecemos sempre juntos e abaixo de um grande sofrimento coletivo. Cada outsider sobrevive conforme uma tragédia individualizada e o mundo, internacionalizado por tudo o que queima em cada setor, abriga todas as contradições em um único e inescapável esquema que sufoca e dizima delicadezas. Dentro de uma energia viciada e conquistando diariamente a ilusão ou algum tipo de rebelião acerca da grande revolta – todos e todas permanecem com a cara vermelha e quente porque o calor das horas transmuta a realidade imediata e a vertigem acelera um carro popular contra a parede da rotina. Aguardando a salvação ou a morte, a Motosserra realiza um sólido e bem estruturado teatro interessado na exploração de uma camada recente da cultura urbana, e tal expediente, sempre defendido por ótimos elencos, configura uma das mais especiais e lúcidas abordagem ao grande tema que nos cerca – o mundo ter acabado e ainda assim caminharmos dopados ou excitados por aí.

Texto e Direção: Biagio Pecorelli. Elenco: Camila Rios, Rodrigo Sanches e Regina Maria Remencius. Assistência De Direção: Giovanna Federzoni. Trilha Original: Edson Van Gogh e Anvil FX. Cenografia: Rafael Bicudo. Figurinos: Ana Luiza Fay. Desenho de Som: Dugg Mont. Desenho De Luz: Carol Soares e Jaque Nunes. Arte Do Cartaz: Bruno Caetano. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Produção: Corpo Rastreado e A Motosserra Perfumada.

 

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