,Quase nada serve para o outro – Lia Petrelli, artista em foco

Por Guilherme Paes.

Em um rápido olhar, é possível notar de imediato que a produção feita por Lia Petrelli trafega em práticas do contemporâneo que não seguem padrões lineares, mas buscam unir campos distintos na produção visual. Quem entrar em contato com o livro terá a percepção de cruzamentos. Em sua produção nada simplória, desde a capa a diagramação, são admiráveis os ritmos e movimentos que o texto e a imagem, ainda que estáticos, no formato de livro, exibem quando se alinham e desalinham conforme suas organizações.

Esta dança invisível que o texto apresenta torna a produção singular e, com olhares mais aguçados, é possível alcançar o ritmo do que foi escrito, portanto.

A capa é construída a partir da imagem em movimento, um vídeo feito pela autora que trata de um escorrer de água pela parede, e que foi pausado para que fosse extraída a imagem, é a matéria prima para a produção da capa (https://www.instagram.com/p/CAswAMWnPjU/).

Pensando nas atribuições convencionais de produção de capas de livros, o filme como matéria prima surpreende, uma vez que o frame do vídeo congelado estabiliza algo que possui movimento, mas ainda assim não o paralisa. Por essa via é construída a capa, de forma a alinhar o movimento do vídeo com a firmeza e constância de um livro.

Logo, o jogo de palavras e diagramação produz anagramas que não são somente textuais, mas sim verbais e principalmente visuais. O espaçamento entre as letras tem muito a dizer, o vazio fala mais alto que as palavras (muitas das vezes). A experimentação no trabalhar da diagramação transcorre a direcionar a escrita automática para o visual. Toda a pulsação ao escrever está presente na organização do texto, e cada espaçamento é um respirar, um intervalo entre as falas.

O livro no contemporâneo se tornou um objeto que trafega entre suportes e meios, o digital, impresso, vídeo, foto, texto. Todos estes são elementos para sua composição. As palavras não mais se apresentam de formas unificadas mas percorrem as páginas para preenchê-las com significados (através de seus desenhos). O texto não é mais lido somente em uma sequência única, ele é um emaranhado de pensamentos que acompanha o leitor e quando a autora que, nesse caso também é a designer da produção, traduz isso para o espaço físico, notasse as abordagens narrativas que a obra pode apresentar.

Um livro é uma sequência de espaços. Cada um desses espaços é percebido em um momento diferente – um livro também é uma sequência de momentos.

(CARRIÓN. 2011, p.05).

CARRIÓN, Ulisses. A nova arte de fazer livros. Editora C/Arte. Belo Horizonte, 2011.

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Retrato da autora Lia Petrelli, por Vic Novais.

Perguntas elaboradas por Marcio Tito.

MT – Lia, parabéns pela publicação pioneira, é bastante importante o surgimento dessa forma de criar e produzir. Só Eu Penso Assim está subscrito como uma “Escrita Automática”. Seriam “Interrogações Automáticas”? Claro que as interrogações são coisas escritas também, mas se faz pertinente notarmos como é que essas perguntas assumem o lugar dos pontos finais algumas vezes. Você pode nos descrever com alguma minúcia o processo da Escrita Automática como você a enxerga? Para você esse modelo criativo significa um “transe induzido”, significa um veículo “quase irracional” ou algum tipo de “irracionalismo que se alcança por meio da razão”?

Lia – Muito obrigada Tito, a publicação é fruto de uma vontade já antiga, e agora foi imprescindível que viesse ao mundo.

Não sei se “interrogações automáticas” é o termo correto, porque, como você colocou, são parte da escrita. Acredito que o momento atual da minha vida não me possibilita ter respostas concretas – acredito, inclusive, que ninguém é capaz de alcançar com precisão resposta alguma (o que é certo para mim pode não ser para o outro, e assim, sucessivamente). Há um tempo venho pensando sobre “o que é a verdade”, e só tenho encontrado conceitos filosóficos para responder isso, que também não dão resposta alguma, só nos colocam para pensar. Talvez o intuito tenha sido, no fim das contas, questionar o leitor e jogar as perguntas no ar. Mas eu não pensei profundamente sobre encontrar respostas enquanto escrevia.

Escrita automática é um exercício de fluxo do inconsciente, era um método muito utilizado pelos dadaístas, no século XX, então a literatura só consegue defender esse método através da vanguarda, muito embora ainda façamos isso quando escrevemos. Esse tipo específico de escrita tenta evitar ao máximo a consciência do autor, deixando as partes mais intocadas da vida ativa agirem sobre o material escrito.

Não acredito que seja um transe induzido ou que tenha nada de irracional, muito pelo contrário, pelo que me conheço – que venho me conhecendo ao longo da vida –, entendo que o inconsciente é onde o mais real está presente, sabe? Então, defendo com unhas e dentes que esse método me possibilita enxergar quem sou sem ser atrapalhada pela razão. Não sei como explicar isso de uma forma sucinta…

É quase como se a razão algumas vezes atrapalhasse esse questionamento interno que gera muito mais conhecimento, em alguma esfera. Não penso sobre irracional porque não são palavras ilegíveis, não são coisas impensadas, são coisas que batucam a cabeça o tempo todo, mas ficam só no pensamento, quando elas vão para o papel, mesmo que não exatamente claras, elas já estão meio que digeridas pela razão – só não são minuciosamente destrinchadas, porque se eu for começar a pensar racionalmente sobre essas questões, vou acabar escrevendo uma tese, um artigo, cheio de referências acadêmicas e históricas, e não era esse o intuito.

O livro foi escrito em duas partes, e vejo muita diferença entre essas duas partes. A primeira parte, na verdade, é a segunda, porque dentro do distanciamento social, eu acabei escrevendo a mão as coisas que me afligiam, que me cutucavam de alguma forma, e para mim é automático (mesmo, literalmente) pegar o caderno e deixar que minha mão fale o que quiser. A segunda parte, que é a primeira, foi diretamente sobre o computador, porque escrever sobre um aparato tecnológico é muito incomodo para mim. Eu entendo que o computador funciona com uma linguagem diferente da escrita à mão, porque eu não posso ver quais são os tipos de emoção que o digitar possui – a não ser que eu tivesse gravado o som dos meus dedos teclando, porque aí eu poderia me basear na força que coloquei sobre X passagem, e aí sim fazer uma leitura emocional daquilo, mas que seria parte do racional completo, essa coisa de querer avaliar o que eu fiz, depois que eu fiz, coisa que não aconteceu.

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Capa do livro

MT – A escrita automática diz muito daquilo que não diríamos através da “razão pura”, ao mesmo tempo a razão também pode dizer coisas que escapam ao fluxo que a escrita automática produz. Lia, o que a sua razão quis dizer quando você interpretou a mensagem final do livro? Como a psicanálise visita esse processo?

Lia – Tito, eu não sei se a minha razão interpretou a mensagem final do livro, eu não sei nem se ele tem uma mensagem final… Claro, eu o li muitas vezes, porque optei por fazer a diagramação e a revisão sozinha, mas sempre que leio o livro fica uma sensação de “ler pela primeira vez”, quase como se quem o escreveu fosse uma ínfima parte de mim que existiu apenas naquele momento em que me propus escrever – e foi num lugar de exaustão, de desespero total, de querer e sentir precisa essa vontade de falar algo de importante e, principalmente, de me comunicar com alguém.

Talvez a única parte racional do livro seja quando eu descrevo o romantismo, porque são dados históricos que estão gravados na minha memória consciente, eu sei daquilo há muito tempo, eu aprendi aqueles conceitos dentro de livros técnicos sobre os movimentos artísticos e aí entrou num campo de reflexão sobre como esses conceitos se aplicam no que vemos hoje na nossa sociedade.

Mas já que a proposta dessa resposta é pensar racionalmente sobre isso, vou fazer esse exercício.

Talvez a mensagem final, racional, seja entender que existem instâncias que não dão conta de falar exatamente do que o nosso emocional necessita dizer, e que quando isso acontece, é de uma forma sublime, de uma forma despreocupada com “o que vão achar disso?” ou, “será que eu fui clara?” – sinto que todos passamos por isso dentro das coisas que fazemos durante a vida.

A psicanálise me diz sobre a necessidade da desconstrução do ser para emergir sob uma nova construção. Se não me engano tem um texto, na IV parte do livro que descreve esse sentimento: um analista me perguntou se eu noto essa tendência destrutiva na minha personalidade, e eu não notava, até que isso me foi apontado. É doido parar para pensar racionalmente sobre isso: que essa forma que encontro de escrever, desconstruindo as palavras, excluindo o modo moderno da escrita, encontrando uma forma que faça sentido para mim, é também uma construção de algo que vejo como necessário para alinhar meus pensamentos de forma concreta, que eu possa ver e tocar, para que eu possa me comunicar da forma que entendo como natural.

Para mim, a psicanálise tem uma ferramenta muito importante que é a autoanálise, ou seja, encontrar um jeito de podermos nos analisar sozinhos, e acho que o Só Eu Penso Assim? entra nesse lugar, porque quando leio, vem aquele sentimento de “Nossa, mas fui eu que escrevi isso? Sério?”, como acontece na maioria das vezes que leio meus diários antigos, as vezes penso “credo, ainda bem que não sou mais assim”, e as vezes penso “uau, isso é muito valioso”, acho que de todas as formas eu sempre acabo procurando um modo de como construir quem sou, lembrando de todas as coisas que guiaram minha vida até esse momento. As questões do livro têm muito disso. A ausência das respostas abre lugar pra respirar sobre elas, e ter muitas respostas diferentes, divergentes, singulares, cada vez que lemos, e por isso, acompanhar nossa própria construção ao longo do tempo.

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Parte do livro

MT – Ler um livro em uma mídia online é estar presente em um território sempre disputado. Abas disputam a nossa atenção e, mesmo que tenhamos baixado o material para a nossa mídia, ainda assim, o LCD ansioso da tela do computador em muito se difere do papel estático e incapaz de receber uma inbox. O papel é offline por excelência. Lia, você prevê qual será o funcionamento sensível do seu livro quando posto no papel? Livro online e livro offline, como é que funciona isso para você hoje?

Lia – Totalmente! Eu, particularmente, não gosto muito da mídia on-line para a leitura de livros. Me incomoda a luz ociosa e a desatenção. Sinto que a distância do papel afasta a percepção ativa da coisa como um todo. Ao mesmo tempo, cada mídia tem sua potência. A escolha de lançar o livro numa plataforma digital foi, primordialmente, pelo momento pandêmico: a biblioteca nacional está fechada e a produção física está parada, como um todo, além de todas as questões burocráticas que vão além dessa: necessitar de uma aprovação prévia de alguma editora, de um lugar para imprimir e todo o dinheiro de investimento – que não tenho, mas que precisaria despender, de alguma forma. Claro, existem muitas outras prerrogativas nesse quesito, digo, existem formas de fazer a publicação física com auxílio do virtual, encontrar novas maneiras de produzir esse material sem o buraco econômico, como muitos conhecidos fizeram, através do Catarse, por exemplo. Mas senti que essa publicação específica, precisava ser rápida, porque são assuntos que podem não ter espaço daqui dois, três, quatro meses.

Pretendo sim fazer uma versão offline, já tenho começado a pensar sobre isso, fazer alguns testes – a Amazon, a plataforma que escolhi para fazer essa publicação, tem meios de produzir o material offline por demanda, o que pode ser interessante, mas não testei ainda, vou ter que aprender bem mais sobre diagramação para entrar nesse lugar (risos).

Sinto que a publicação offline tem um liberdade maior de diagramação, e minha vontade é colocar, também, as imagens gráficas que produzo nos meus cadernos quando literalmente não consigo pensar sobre o assunto, que entra na minha pesquisa artística, que é sobre a escrita, mas é sobre a escrita das sensações e dos sentimentos, não de palavras – porque tem muitas outras questões que não são o foco dessa nossa conversa – mas que não coube na formação digital, mesmo sendo parte essencial do que faço. Nesse sentido foi preciso elencar o que queria dar mais atenção, e optei pelas palavras legíveis.

A mídia digital tem algumas complicações no quesito do diagramar. Quando escolhi lançar o livro na plataforma da Amazon, eu tive, necessariamente, que escolher um único aparato para receber essas informações do modo como elas foram originalmente pensadas (no PDF eu consegui fixar a formatação correta). Se alguém ler o livro, feito para o Kindle, especificamente (na fonte 1), num tablet, ou num celular, por exemplo, a formatação vai ficar estranha – não acho isso ruim, mas foi uma coisa que me tirou o sono por alguns dias, pelo menos até eu entender que tudo bem, que as vezes as formatações impensadas podem abrir novos campos de questionamento.

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Parte do livro

MT – A escrita automática acessa lugares que parecem despersonalizar você? Ao assinar, algum desconforto? Você se enxerga no retrato que essas palavras produzem? O que você pôde dizer através do fluxo, que não poderia ser dito através da razão tradicional?

Lia – Não sinto a despersonalização, muito pelo contrário, como disse antes, acredito que a escrita automática saiba muito mais de quem eu sou do que a razão tradicional.

A razão tradicional é infestada por achismos e verdades que são induzidas pelo externo, o fluxo inconsciente, claro, tem algumas partículas desses saberes e quereres específicos, mas não são atropelados pelo “correto”, como um ponto final. As coisas ditas através do fluxo são para mim bem mais sinceras do que as racionais, é o modo como meu inconsciente se organiza e organiza a mim mesma, sem depender do necessariamente racional que fica questionando se eu realmente domino tal assunto, ou se eu tenho cacife para produzir alguma coisa profissional – no fim, a razão tradicional traz questionamentos de insegurança que não vejo acometerem o fluxo inconsciente.

Então, o retrato inconsciente das coisas que escrevo automaticamente, refletem bem mais o que sou, no momento em que escrevi o que escrevi. Não precisa ser algo permanente: sinto, inclusive, que a impermanência é o lugar mais confortável para mim. Não precisar delimitar nenhum tipo de forma, e poder ser mutável a todo o instante. Posso concordar com algo agora e daqui dois minutos discordar, porque passo por lugares que me desestabilizam.

O saber racional é algo construído socialmente, é quase que uma validação desimportante, para mim, porque a sociedade, sim, tem uma necessidade de traçar nossa imagem como quer que seja traçada para que o outro possa ver. O inconsciente traça a minha própria imagem, levando em consideração as imperfeições que me constroem enquanto Lia. A razão, não. A razão tem um lugar de perfeição exigente que corta um pedaço do que podemos vir a ser.

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Parte do livro

MT – No seu livro, quando a tipografia empresta o “efeito espelho” às frases, senti que você replicava a frase para pensar melhor sobre ela e disparar novas sentenças, não como em uma reflexão, mas em um método para adentrar aquelas imagens, como autora, e não como leitora de si ou espectadora do material, mas é claro que esse olhar coloniza as mil outras subjetividades possíveis. Você, agora que está “liberta” do automatismo, friamente, como analisaria essa passagem? Também suspeito que você tenha vertido as palavras em “imagens” após as escrituras, foi de fato assim?

Lia – Na verdade, não. Eu inverto as palavras já logo quando escrevo. Como escrevi no Word, primeiro, eu fazia como você vê no PDF, pulava uma linha e escrevia ao contrário oriártnoc ao

Colocar de cabeça para baixo foi uma coisa posterior, mas eu sempre escrevi ao contrário, assim mesmo. No caderno, escrever à mão, é bem mais fácil, a formatação da coisa vem na hora, e eu sempre respeito esses fluxos da forma que eles vêm, mesmo.

Tem uma questão aí na alfabetização, porque quando mais nova fui ensinada a escrever com a mão direita na escola, mas eu sou canhota de nascença, então sempre acabei escrevendo refletido porque meu cérebro teve que se adaptar ao que era ensinado em sala de aula. Acaba que hoje consigo escrever com as duas mãos, mas foi um período doloroso esse da pré-escola, porque me lembro de levar algumas broncas caso usasse a mão esquerda para escrever.

Acho que não havia notado essa coisa de refletir as passagens de fato como uma reflexão: você me trouxe isso agora e vejo que faz sentido, talvez a reflexão do que está escrito desta forma seja realmente com intuito de refletir sobre a passagem por completo, mas na maioria das vezes utilizo essa tipografia para “esconder”, ou dificultar, a compreensão do que está ali. Esconder eu fazia muito quando estava na escola porque a galera pegava meus diários para ler, então resolvi essa questão inventando modos difíceis de serem lidos, propositalmente.

Além disso tem uma coisa que gosto muito que é a questão do relance. Quando o olho vê palavras ao contrário, muitas vezes o cérebro interpreta como sendo outra palavra, e isso me interessa, porque aí sinto que consigo trazer o leitor para esse modo de fluxo inconsciente: você, imerso numa leitura fluída, se depara com uma palavra espelhada, ou invertida, e lê algo, se você se desatenta, aquilo vai ser o que leu primeiro, mesmo, mas se você parar para tentar ler o que foi escrito, vai se pegar virando a cabeça, virando a página para “olhar” convencionalmente aquele modo de escrita. Não sei como é a sensação de ligar mais a atenção e parar por mais tempo numa palavra invertida, por exemplo, porque faço isso rapidamente, mas já presenciei colegas se desdobrando para ler.

Essa questão da atenção me interessa muito, como podemos focar nossa atenção que estava num ritmo, trazê-la para outro, e logo depois voltar àquele ritmo? A atenção se modifica, de alguma forma a sensação de poder encontrar outra palavra espelhada vai te acompanhar pela leitura, os olhos estarão mais atentos, de certa forma, carregando a atenção para esse lugar.

As escolhas das palavras que estão assim acompanharam o fluxo inconsciente, mas com certeza, o sentido dessas passagens eram coisas que mereciam bem mais minha própria atenção, por isso foram escritas dessa forma.

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Parte do livro

MT – Quais as tuas referências nesse processo? Por que elegeu a escrita automática como práxis?

Lia – Não sei se existem referências racionais, de fato. A escrita automática é algo que pratico desde que comecei a escrever diariamente – com 8 anos, mais ou menos – sempre me vi não podendo desaguar certos sentimentos na fala, ou no corpo, e adotei a escrita como escape do mundo, então sempre que me sentia desconfortável com alguma situação, deixava que o caderno recebesse aquela energia.

Eu vim a conhecer o título “escrita automática”, lá em 2015, quando passei a estudar com mais afinco a produção surrealista e dadaísta, e acabei percebendo que sempre fizera isso, mesmo sem saber do nome (risos).

Conversei um pouco sobre referências com o Guilherme Ziggy, e percebi que não leio tanto quanto deveria para conseguir encontrar referências concretas nesse modo de escritura. Quando conversamos falamos um pouco sobre a falta de alunos de escolas concretistas, do modo de escrever poesia assim, que não chega a ser como Augusto de Campos ou Arnaldo Antunes, por exemplo, que são duas inspirações muito fortes, mas que levam a palavra muito mais para a imagem, de fato.

A poesia brasileira ainda está dando passos iniciais nesse modo poético, na verdade, tanto que pessoalmente só identifico o modo visual da minha escrita, com a Layla Loli, e recentemente, o próprio Guilherme Ziggy.

Uma pessoa que encontrei também intuitivamente pela vida que me fez não ter receio de escrever de outras formas foi Jean Sartief, no livro “Na Boca Tuas Palavras”, que me deixou encantada por descobrir semelhantes nesse modo de fazer escrita-automática-visual.

Obrigada pela entrevista, Tito, foi muito bom poder pensar essas questões.

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Parte do livro

MT – Nós é que agradecemos esse salto corajoso! Parabéns pela clareza e pela obstinação em sentir e fazer sentir. Espero que todos conheçam logo o seu trabalho, que aponto como um instante autoral para esse começo de século, sobretudo na literatura brasileira (ainda tão carente de experimentações funcionais).

Ao leitor, muito obrigado por ler a nossa entrevista.

,Sobre a entrevistada:

Lia Petrelli é Artista Visual e Psicanalista. Entre educação, poesia e composições artísticas intermídias, percorre leituras e escritas como meio de exteriorização psíquica e emocional.

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