Por Livia Carvalheiro • @livia.carvalheiro
A hibridez das mídias no média-metragem Nóia, propondo e definindo linguagem, leva a narrativa e o estilo do filme a um caminho de desorientamento do público que acompanha a queda livre da personagem – devido ao seu vício em drogas. Na primeira cena entre a mãe e a personagem principal, o tom exagerado de algumas falas que pretendem apresentar significados e esquemas relacionais metafóricos, aposta em diálogos e imagens que poderiam ser uma representação da mente da personagem “nóia” (e de suas aflições internas). A protagonista está amarrada pelos pés e pelas mãos e implora ser liberada para usar mais drogas. Enquanto isso, fazendo uso de um texto cruel, a mãe a “perfura” com palavras. Adiante, o efeito especial de um demônio em computação gráfica deixa na tela um sentimento e um toque de fábula urbana e moderna.
A personagem principal, ao sair da casa da mãe, finalmente “liberta”, vagueia pela paisagem branca, diluída e pastosa, como se a lente do filme estivesse mediada ou suja por um véu branco, manchado de cocaína. Vários planos da filmagem são aproveitados assim, e o olhar do espectador aparece rapidamente tornado qual a deriva e o ponto de vida de uma “câmera Gopro”. Logo em seguida, repondo o procedimento “entremídias”, a compreensão do quadro aberto aparece tão totalizante quanto a panorâmica de um drone por sobre uma cidade grande tomada por adictos e infelizes, como em um cemitério de vivos, ou como em um hospital psiquiátrico sem médicos ou doses exatas.
A necessidade de rever um curta metragem que busca narrar alívios imediatos para dores que passearam dez anos atrás pelas vielas e ruas da época em que o curta foi lançado, é análoga à necessidade de manutenção da memória da cidade, para que saibamos o que mudou ou se mantém, o que éramos, quais personagens habitamos, e se algo realmente evoluiu. São Paulo, local das filmagens, traz o peso único das cidades despenteadas pelo céu nublado.
Todas as personagens retratadas possuem curvas redentoras quando seguimos a trilha de suas primeiras cenas, ainda que sejam curvas imperfeitas – seja a mãe, (porque oscila entre acolher ou agredir), seja a terceira personagem, o traficante (porque não deixa claro se é o derradeiro algoz que condena a mulher adicta à morte ou o um estranho aliado que a salva da morte quando a faz parar o uso por meio de violência física e ameaças). Ambos são, portanto, bifurcados ao serem tocados pela história da mulher que está em estado de adicção e, a partir dela, tomam decisões que desenham chaves para as suas trajetórias de personagens e, num gesto final, para um novo caminho de escolhas para a personagem central.
A protagonista, interpretada pela técnica e visceral Patrícia Vilela, sentada em uma poltrona da casa de sua mãe, na cena final, após o seu encontro de quase morte com o traficante e com a droga que a submete e desumaniza, abre espaço para a imaginação do que é que lhe acontecerá em seguida: irá se levantar e fechar a porta por onde sua mãe saiu ou irá se arrastar no chão e repetir (para sempre ou até o fim) todas as cenas do enredo?
Livia Carvalheiro é advogada e produtora cultural, professora de italiano e atriz. Tem experiência em artes, com ênfase no teatro e na pintura, eventualmente atuando em peças e filmes, e pintando telas autorais desde 2016. Foi artista residente da MIT 2024 e, anteriormente, convidada a colaborar com o grupo alemão Teatro Quartel_1205.
UM FILME DE ELDER FRAGA
ROTEIRO DE MARISTELA BUENO
ELENCO
PATRÍCIA VILELA
ALEXANDRE BARROS
ÂNGELA BARROS
FRANSÉRGIO ARAÚJO
ELENCO COADJUVANTE
LUCIANA AFFONSO
GIANFRANCO DI MARTINO
LUCIANO MARCHETTO SILVA
GABRIELA WAZLAWICK
ELDER FRAGA
EQUIPE TÉCNICA
DIREÇÃO GERAL
ELDER FRAGA
1º ASSISTENTE DE DIREÇÃO
THIAGO LEÃO
2º ASSISTENTE DE DIREÇÃO
TONY TRAMELL
DIRETOR DE FOTOGRAFIA
DINO POLI
1º ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA
CLAYTON CLEMENTE
2º ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA
FELIPE RAMOS (BOLHA)
MONTAGEM E FINALIZAÇÃO
JORGE MENDES
ASSISTENTES DE CÂMERA
MARIANA MENDES
MELISSA VASSALI
CHEFE DE ELÉTRICA
EDGAR NASCIMENTO
ASSISTENTE DE ELÉTRICA
IVAN PAULO (JOCA)
OPERADOR DE STEADYCAM
JOSIMAR BONI
FOTOS DO MAKING OFF
GLAUCO BERNARDINO
JOHNNY NASTRI
VÍDEO DO MAKING OFF
EDGAR PEDRO DE SOUZA
FOTOGRAFIA AÉREA (DRONE)
FELIPE RAMOS (BOLHA)
SOM DIRETO E PÓS PRODUÇÃO DE ÁUDIO
THIAGO SCHULZE
EQUIPE DE PRODUÇÃO
GIANFRANCO DI MARTINO
KIM CIMA
LEANDRO PAULO RIGGO
LUCIANA AFFONSO
RODRIGO ALVES
SILVIA KIEFER
TAIANÁ PAIM KRETZER
DIRETOR DE ARTE
ELDER FRAGA
DINO POLI
VISAGISMO E FIGURINO
KENE HEUSER
MAQUIAGEM E CABELO
JUNIOR MOICAN
TRILHA SONORA ORIGINAL E SOUNDESIGN
VINICIUS B. BERTOLINO
WILLIANS ALVES
MODELAGEM 3D E EFEITOS VISUAIS VFX
LUIZ CASADIO
TRADUÇÃO E LEGENDAS (INGLÊS)
TIAGO STECHINNI
TRADUÇÃO E LEGENDAS (ESPANHOL)
FAGNER PAVAN
SEGURANÇA
ADALBERTO CABRAL PEREIRA
TRILHA MUSICAL
MELTING ALONE (LEIGH NASCH / SIXPENCE)
VOLÙVEL (VERTAVEL)
PRODUÇÃO EXECUTIVA E GERAL
MARISTELA BUENO