Por Marcio Tito • @marciotitop
A notável e muitíssimo potente sinopse do espetáculo Bichados, que encerra a gestão da Poiesis no prédio histórico da rua Três Rios, não chega a realizar-se em sua máxima potência, e, talvez, nem mesmo em partes, porém, no campo da visualidade, alcança, com orgânica condução, a formatação de uma poderosa e narrativa construção visual cuja maior função, perante as incontornáveis fragilidades do material, por fim, aparece em ofertas imagéticas que competem e desfibrilam instantes, mas não reformam por completo a ausência de objetivo ou boa dramaturgia do manifesto apresentado. Bichados, embora dispare uma longa sequência de interrogações, termina por realizar apenas uma sequência de falas que somentem circundam as urgências sugeridas
Bichados, sobretudo, peca por – diante daquilo que está presente em sua gênese – correr na direção contrária e, sem outras estratégias, insistir na frontalidade de um ator que faz o possível e o impossível para vivificar uma personagem esquemática e pouquíssimo carismática.
Organizada, com argumento bastante relevante e fôlego suficiente para uma necessária revisão, a obra termina por trilhar uma infrutífra busca por um teatro épico que não se sustenta como tal e, em última análise, quiçá, apresentar-se-ia melhor enquanto melodrama ou pura e simples performance. Contudo, parece certo dizer que aquilo que há de paixão na interpretação – às vezes nos seduzindo pelo volume de energia vertida em ato – chega a fazer com que o espetáculo defina algum tipo de comunicação especial.
Ficha Técnica:
Dramaturgia e direção: Ricardo Corrêa
Interpretação: Davi Reis
Vídeos: Cia Artera, Thiago Capella e Ivan Soares
Operação de som e vídeo: Ivan Soares
Iluminação: Fran Barros
Figurino: Maitê Chasseraux
Trilha sonora: Cia Artera
Músicas compostas: Marco Caramano.
Cenografia: Ricardo Corrêa e Zito Lemos
Assistência de produção: Paula Arruda
Fotos: Leekyung Kim
Projeto gráfico: Zeca Bral
Realização: Cia. Artera de Teatro – Instagram: @ciaarteradeteatro
Deus Ateu 