Por Um Pingo – Por Marcio Tito

Com destaque para Fernando Aveiro, para a boa produção, para a eficiência das partes técnicas e para o elenco de modo geral, Por Um Pingo ensaia o promissor futuro de um autor cuja aposta no suspense ainda trará frutos saborosos e necessários ao nosso teatro – Por Um Pingo

Por Marcio Tito • @marciotitop

A oscilação entre estilos e linguagens teatrais ao longo do espetáculo “Por Um Pingo” engaja as nossas mais atentas ferramentas de leitura na busca por algum conciso acerca do verdadeiro espírito do material. Ao elegermos alguns dos expedientes apresentados como sendo os mais adequados àquelas situações, atmosferas, diálogos e personagens, ao longo deste constante destino de tradução imposto pela indefinida ou errática definição de estilo da direção, muitas vezes terminamos ressentidos com a via tomada pelo diretor e pela diretora. Contudo, o bom elenco e o primor da cenografia e da luz dão conta das citadas incertezas formais e tornam orgânicas cada uma das supracitadas imprecisões. Adiante, impulsionados por este ganho e alimentados pelas constantes afirmações trazidas pelo conjunto de interpretações, nos sentimos livres para criarmos conexões com e entre as figuras dispostas pelo enredo. Desta forma, compreendemos a supracitada irregularidade inicial como sendo a (possível) emanação que, partindo das personagens, adiante, terminará por nos dizer (ou brevemente sugerir) que sim – alguma daquelas personagens é ou tornou-se responsável por organizar o ponto de vista de todos e de todas as participantes, desta forma, à partir de certo esforço subjetivo por parte da plateia, a realidade das personagens passa a figurar como uma espécie de “versão comprometida”

Ainda no campo das potenciais narrativas disparadas por possíveis pontos de vista, destaco o ótimo expediente engendrado pela potente camada de mistério e suspensão adensada pelos monitores-câmeras de seguranças (cujo “tempo lógico” aparece corrompido por algum tipo de ruído visual ou defeito – quiçá da captação, quiçá das próprias imagens agarradas pelo aparelho de vídeo).

Com luminoso destaque para o bem coordenado e equalizado elenco posto em variados tons qualitativos acima do comum, o ponto frágil da montagem fica por conta da dinâmica dramatúrgica, embora um espetáculo que apresente suspense e mistério seja sempre uma bem-vinda e substanciosa adição ao contexto artístico, diverso e cultural da cidade de São Paulo.

Ficha técnica:

Dramaturgia: Dante Passarelli
Direção: Dante Passarelli e Fernanda Zancopé
Elenco: Ana Paula Lopez, Cris Lozano, Ernani Sanchez, Fernando Aveiro
Cenografia: Julio Dojcsar
Iluminação: Aline Santini
Sonoplastia e Trilha Sonora: Ale Martins
Figurino: Silvana Marcondes
Vídeomaker e Câmera: Marcelo Moraes
Preparador corporal: Marcus Moreno
Orientação em Melodrama: Fernando Neves
Produtora: Anayan Moretto
Produção Executiva: Marcelo Leão
Operação de luz: Marina Gatti
Assessoria de Imprensa: Nossa Senhora da Pauta / Frederico de Paula
Realização: Manás Laboratório de Dramaturgia, Prêmio Zé Renato e Secretaria
Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo

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